quarta-feira, 3 de junho de 2015

Retrato de uma senhora


Numa tarde de dezembro entre bruma e fumaça
Eis que a cena – como há de parecer – se arranja por si
Com “Esta tarde reservei para ti”,
E quatro velas acesas na sala baça,
Quatro halos de luz sobre o teto acima,
Uma atmosfera de tumba de Julieta
Montada para se dizer, ou não, tudo o que se estima.
Estamos a ouvir, talvez, o mais recente polonês
Transmitir os Prelúdios pelos dedos e cabelos.
“Tão íntimo, esse Chopin, que deveria outra vez
Renascer, mas apenas entre amigos,
Dois ou três, que não toquem em seu viço
Que aviltado na sala de concerto torna-se cediço.”
- Em meio a contidos apelos,
A conversa desliza com veleidades assim,
Entre os tons atenuados de violinos
E um distante cornetim,
E começa.
[...]


Among the smoke and fog of a December afternoon
You have the scene arrange itself—as it will seem to do—
With "I have saved this afternoon for you";
And four wax candles in the darkened room,
Four rings of light upon the ceiling overhead,
An atmosphere of Juliet's tomb
Prepared for all the things to be said, or left unsaid.
We have been, let us say, to hear the latest Pole
Transmit the Preludes, through his hair and fingertips.
"So intimate, this Chopin, that I think his soul
Should be resurrected only among friends
Some two or three, who will not touch the bloom
That is rubbed and questioned in the concert room."
—And so the conversation slips
Among velleities and carefully caught regrets
Through attenuated tones of violins
Mingled with remote cornets
And begins.
[...]


terça-feira, 2 de junho de 2015

Morning at the Window, seis traduções

Morning at the Window

They are rattling breakfast plates in basement kitchens,
And along the trampled edges of the street
I am aware of the damp souls of housemaids
Sprouting despondently at area gates.

The brown waves of fog toss up to me
Twisted faces from the bottom of the street,
And tear from a passer-by with muddy skirts
An aimless smile that hovers in the air
And vanishes along the level of the roofs.


Manhã à Janela

Há um tinir de louças de café
Nas cozinhas que os porões abrigam,
E ao longo das bordas pisoteadas da rua
Penso nas almas úmidas das domésticas
Brotando melancólicas nos portões das áreas de serviço.

As ondas castanhas da neblina me arremessam
Retorcidas faces do fundo da rua,
E arrancam de uma passante com saias enlameadas
Um sorriso sem destino que no ar vacila
E se dissipa rente ao nível dos telhados.
(Ivan Junqueira)

Uma manhã à janela

Eles rangem a louça do café na despensa
Dos porões
E pelos limites pisoteados da estrada
Sei das almas úmidas das arrumadeiras
Brotando desesperadamente ao redor das porteiras.

A ondulação brônzea da névoa lança a mim
Rostos retorcidos do fundo da rua
E parte, de uma transeunte com a saia enlameada,
Um sorriso incerto que no ar paira
E desaparece ao nível dos telhados.
(Maurício Borba Filho)

Manhã na janela

Talheres de café da manhã tilintam nas cozinhas dos porões,
E, ao longo das guias já desgastadas da rua,
Atento às almas úmidas das criadas
Surgindo melancólicas nos portões.

Ondas marrons de neblina lançam-me
Rostos distorcidos da sarjeta,
E, à parte de alguém que passa com saias sujas,
Um sorriso a esmo que paira no ar,
E desaparece ao longo do nível dos telhados.
(Leandro Seribelli)

Manhã na Janela

Bandejas de café chacoalham em porões de cozinhas.
E ao longo das bordas pisoteadas da rua
Tenho consciência das almas úmidas das empregadas
Brotando melancolicamente no espaço dos portões.

As ondas pardas da neblina lançam sobre mim
Rostos deformados que vêm do abismo da rua,
E arrancam de um pedestre em vestes imundas
Um sorriso incerto que paira no ar
E desaparece ao longo do topo dos prédios.
(Estermann Meyer)

DE MANHÃ NA JANELA.

Agitam o café-da-manhã nas cozinhas
E ao longo das escadas suburbanas
Eu temo a alma úmida das criadas
Desesperadamente irrompendo dos portões.

A onda marrom da névoa me joga
Faces deturpadas do fundo das ruas,
E rasga de um passante todo sujo
Um sorriso qualquer que voa no ar
E se dissipa ao nível dos telhados.
(Matheus "Mavericco") 

Manhã à janela

Retinem a louça do desjejum em cozinhas do subsolo,
E ao longo do meio-fio gasto da rua
Sinto as almas entorpecidas das criadas
Despontando exânimes nos portões de entrada.

As ondas pardas da neblina me lançam
Faces retorcidas do rés-do-chão
E a uma passante de saia enlameada
Arrancam um sorriso a esmo que flutua
E desaparece na linha dos telhados.
(Denise Bottmann)





Conversation galante, quatro traduções

Conversation galante

I observe: "Our sentimental friend the moon
 Or possibly (fantastic, I confess)
 It may be Prester John's balloon
 Or an old battered lantern hung aloft
 To light poor travellers to their distress."
   She then: "How you digress!"

 And I then: "Some one frames upon the keys
 That exquisite nocturne, with which we explain
 The night and moonshine; music which we seize
 To body forth our own vacuity."
   She then: "Does this refer to me?"
   "Oh no, it is I who am inane."

 "You, madam, are the eternal humorist
 The eternal enemy of the absolute,
 Giving our vagrant moods the slightest twist
 With your air indifferent and imperious
 At a stroke our mad poetics to confute—"
   And—"Are we then so serious?"


Conversa Galante

Observo: “Nossa sentimental amiga, a Lua!
Ou talvez (é fantástico, admito)
Seja o balão do Preste João que agora fito
Ou uma velha e baça lanterna suspensa no ar
Alumiando pobres viajantes rumo a seu pesar.”
   E ela: “Como divagais!”

Eu, então: “Alguém modula no teclado
Esse noturno raro, com que explicamos
A noite e o luar; partitura que roubamos
Para dar forma ao nosso nada.”
E ela: “Me dirá isso respeito?”
   “Oh, não! Eu é que de vazios sou apenas feito.”

“Vós, senhora, sois a perene ironia,
A eterna inimiga do absoluto,
A que mais de leve torce nossa tristeza erradia!
Com vosso ar indiferente e resoluto,
De um golpe cortais à nossa louca poética os seus mistérios...”
   E ela: “Seremos afinal assim tão sérios?”
(Ivan Junqueira)

Conversa galante

Pondero: "Nossa amiga sentimental, a lua!
Ou talvez (é fantástico, confesso)
Seja o balão de Preste João
Ou uma velha e surrada lanterna suspensa no alto
Para alumiar os pobres viajantes, para aflição deles."
   E ela: "Como devaneiais!"

Eu, então: "Alguém engendra no teclado
esse noturno raro, com o qual deciframos
A noite e o luar; a música a que nos agarramos
para informar a nossa vacuidade."
   Ela: "Isso diz respeito a mim?"
   "Oh, não! Eu é que sou sem conteúdo."

"Vós, madame, sois o eterno humorista.
o eterno inimigo do absoluto,
Torcendo, com um piparote, o rumo de nossos estados erráticos
Para, de um golpe, o ar indiferente e imperioso,
Refutar nossas lunáticas artes poéticas..."
   E ela: "Então, somos assim tão sérios?"
(Oswaldino Marques)


CONVERSA GALANTE.

Observo: "Nossa amiga sentimental,
A lua! Ou (bem, seria muito estranho)
O balão do Preste João, que tal?,
Ou uma lâmpada antiquada céu acima
A iluminar, coitados!, os que vão."
   E ela: "Mas que digressão!"

E eu: "Alguém toca nesse teclado a noite
Estranha, pela qual nós explicamos
A lua e o luar; música que, no afoite,
Usamos pra entender nosso vazio."
   E ela: "Ah, uma indireta?"
   "Nada... Eu é que sou um frívolo."

"Madame, tu és sempre a humorista,
Sempre a inimiga do absoluto, dando
À nossa vadiagem a torção mínima!
Com seu auxílio apático e imperativo
Nossa louca poesia contestando-"
   "-Somos mesmo tão pensativos?"
(Matheus "Mavericco")

Conversation galante

Observo: “A lua, amiga de nosso coração,
Ou talvez (fantasioso, ressalto)
Possa ser o balão do Preste João
Ou uma velha lanterna pendurada no alto
Iluminando o viandante rumo a duras plagas”.
   Ela, então: “Como divagas!”

E eu, então: “Alguém desenrola ao teclado
Aquele belo noturno que nos traz em seu centro
A noite e o luar, música num arranjo adequado
Para moldarmos nosso vazio por suas escalas.”
   Ela, então: “É a respeito de mim que falas?”
   “Oh, não, eu é que sou oco por dentro.”

“Tu, minha cara, és a eterna comediante
A eterna inimiga das esferas absolutas,
Que levíssima distorces nosso humor oscilante
Com teu ar indiferente e imperioso
E num piparote nossa louca poética refutas –“
   E – “então somos algo assim grandioso?”
(Denise Bottmann)


Une conversation galante, Pater

(eu notaria apenas que, como tanto sói acontecer na poesia de eliot, trata-se de uma invocação paródica da tradição sete e oitocentista das chamadas conversations galantes, como já indica o próprio título em francês do poema e bem aponta lothar hönnighausen, aqui)

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Cousin Nancy, três traduções

Cousin Nancy

Miss Nancy Ellicot
Strode across the hills and broke them,
Rode across the hills and broke them—
The barren New England hills—
Riding to hounds
Over the cow-pasture.

Miss Nancy Ellicott smoked
And danced all the modern dances;
And her aunts were not quite sure how they felt about it,
But they knew that it was modern.

Upon the glazen shelves kept watch
Matthew and Waldo, guardians of the faith,
The army of unalterable law.


Prima Nancy

A senhorita Nancy Ellicott
Andava a passo largo pelas colinas e esmagava-as,
Cavalgava pelas colinas e esmagava-as
— As áridas colinas da Nova Inglaterra —
Caçando a cavalo com a ajuda dos cães
No pasto do gado.

A senhorita Nancy fumava
E dançava todas as danças modernas;
E suas tias não estavam bem certas do que pensavam a respeito,
Mas sabiam que era moderno.

Sob as prateleiras envernizadas da estante vigiavam
Matthew e Waldo, guardiães da fé,
O exército da lei imutável.
(Ivan Junqueira)

PRIMA NANCY.

A srta. Nancy Elicott
Passou pelas colinas e as transpassou
Passeou pelas colinas e as transpassou -
As áridas colinas de New England -
Caçando a cavalo
No pasto.

A srta. Nancy Ellicott fumava
E dançava qualquer dança moderna;
Suas tias não sabiam bem o que pensar,
Mas sabiam que era moderna.

Sobre as prateleiras luzindo, Matthew e Waldo
Vigiavam, guardiões da fé,
O exército da lei inalterável.
(Matheus "Mavericco")

Prima Nancy

Miss Nancy Ellicot
A passadas cruzava as colinas a esmagá-las
A cavalo cruzava as colinas a esmagá-las –
As colinas áridas da Nova Inglaterra –
Caçando raposas
Além das pastagens.

Miss Nancy Ellicot fumava
E dançava todas as danças modernas;
E suas tias não se sentiam muito seguras a respeito,
Mas sabiam que era moderno.

Nas estantes laqueadas vigiavam
Matthew e Waldo, guardiões da fé,
O exército da lei inabalável.
(Denise Bottmann)


Aunt Helen, cinco traduções

Aunt Helen

Miss Helen Slingsby was my maiden aunt,
And lived in a small house near a fashionable square
Cared for by servants to the number of four.
Now when she died there was silence in heaven
And silence at her end of the street.
The shutters were drawn and the undertaker wiped his feet—
He was aware that this sort of thing had occurred before.
The dogs were handsomely provided for,
But shortly afterwards the parrot died too.
The Dresden clock continued ticking on the mantelpiece,
And the footman sat upon the dining-table
Holding the second housemaid on his knees—
Who had always been so careful while her mistress lived.


Tia Helen

A senhorita Helen Slingsby era minha tia solteirona,
E morava numa casinha próxima a um quarteirão elegante
Sob os cuidados de quatro serviçais.
Ela acaba de morrer e houve silêncio no céu
E silêncio no seu cantinho de rua.
Cerraram as persianas e o agente funerário esfregou-lhe os pés
— Ele sabia que esse tipo de coisa já ocorrera antes.
Os cães tiveram generosamente garantida a sua subsistência,
Mas logo depois o papagaio também morreu.
O relógio de Dresden continuou seu tiquetaque sobre a lareira,
E o lacaio sentou-se à mesa de jantar,
Aconchegando nos joelhos inchados a segunda criada
— Ela, que fora sempre tão carinhosa enquanto sua patroa era viva.
(Ivan Junqueira)

Tia Helen

A srta. Helen Fidalga era minha tia,
Uma donzela que vivia numa casa simples próxima a um residencial
Aos cuidados de quatro criados.
Quando ela morreu houve silêncio no céu
E silêncio na rua em que morava.
As persianas fechadas e o coveiro que os pés limpava--
Ele sabia que coisa tal já ocorrera antes.
Os cães receberam cuidados bastantes,
Mas, pouco tempo depois, o papagaio também morreu.
Na prateleira, o tic-tac incessante de um Dresden, o relógio,
E o mordomo sentado na mesa de jantar
Com uma das criadas em seu colo--
A qual tinha sido tão atenciosa enquanto sua senhora vivera.
(Leandro Seribelli)

TIA HELEN.

A srta. elen Slingsby era minha tia solteirona
Que vivia numa casinha perto duma praça elegante
Cuidada por empregados, ao todo quatro.
Agora quando ela morreu houve silêncio no céu
E silêncio no fim de sua rua.
Abriram as cortinas e o agente funerário bateu os sapatos -
Sabia que coisa assim já tinha ocorrido.
Deram um trato nos cães para a ocasião,
Mas logo o papagaio morreria também.
O relógio Dresden ainda batia sobre a lareira,
E o lacaio se sentava na mesa de jantar
Com uma criada aí entre as pernas -
Sempre tão cuidadosa enquanto patroa era viva.
(Matheus "Mavericco")

Tia Helen

Miss Helen Slingsby era minha tia solteira,
E morava numa casota perto de uma praça elegante
Atendida por criados em número de quatro.
Quando ela morreu, fez-se silêncio no céu
E silêncio em seu final da rua.
Fecharam-se as venezianas e o agente funerário limpou os pés -
Ele sabia que esse tipo de coisa tinha acontecido antes.
Os cães ficaram generosamente providos,
Mas logo depois o papagaio também morreu.
O relógio de aparador continuou seu tique-taque em cima da lareira,
E o lacaio se sentava sobre a mesa de jantar
Mantendo a segunda criada no colo –
Que sempre tinha sido tão ciosa enquanto a patroa vivia. 
(Denise Bottmann)

uma portuguesa:

TIA HELEN

Miss Helen Slingsby era a minha tia solteira
E morava numa casita à beira de uma praça elegante
Tratada por serviçais em número de quatro.
Ora, quando morreu, fez-se no céu um silêncio
E silêncio ao fundo da rua que era dela.
Correram as persianas, limpou os sapatos o cangalheiro –
Consciente de que tais coisas haviam já acontecido.
Na ração dada aos cães, foram generosos
Mas até o papagaio morreu em poucos dias.
Na prateleira do fogão, seguia o tiquetaque do relógio de Dresden,
E em cima da mesa de jantar sentava-se o lacaio
E apertava, nos joelhos, a criada de fora –
Sempre tão discreta, em vida da patroa.
(João Almeida Flor)


The Boston Evening Transcript, cinco traduções


The Boston Evening Transcript

The readers of the Boston Evening Transcript
Sway in the wind like a field of ripe corn.

When evening quickens faintly in the street,
Wakening the appetites of life in some
And to others bringing the Boston Evening Transcript,
I mount the steps and ring the bell, turning
Wearily, as one would turn to nod good-bye to Rochefoucauld,
If the street were time and he at the end of the street,
And I say, "Cousin Harriet, here is the Boston Evening Transcript."


O Boston Evening Transcript

Os leitores do Boston Evening Transcript
Ondulam ao vento como um trigal maduro.

Quando a tarde freme languidamente na rua,
Acordando em alguns os apetites de viver
E trazendo a outros o Boston Evening Transcript,
Subo os degraus e toco a campainha, voltando-me fatigado,
Como alguém que o fizesse para dizer adeus a La Rochefoucauld,
Caso a rua fosse o próprio tempo e este fluísse no fim da rua,
E digo: “Prima Harriet, eis o Boston Evening Transcript”.
(Ivan Junqueira)

The Boston Evening Transcript

Os leitores do Boston Evening Transcript
Oscilam ao vento como o trigo maduro.
Quando a noite acelera timidamente nas ruas,
Despertando os apetites da vida em alguns
E trazendo a outros o Boston Evening Transcript,
Eu subo os degraus e toco a campainha, volvendo
Cansado, como alguém volveria para dar adeus a Rochefoucauld,
Se a rua fosse o tempo e ele o final da rua,
E eu digo, “Cousin Harriet, aqui está o Boston Evening Transcript.”
(Estermann Meyer)

O BOSTON EVENING TRANSCRIPT.

Os leitores do Boston Evening Transcript
Ondulam ao vento tal qual trigal maduro.

Quando a aurora raia debilmente na rua,
Acordando o apetite de vida em alguns
E para outros trazendo o Boston Evening Transcript,
Subo os degraus e toco a campainha, virando-me
Cansado, como quem dá tchau pra La Rochefoucauld,
A rus fosse o tempo e ele lá no final da rua,
E eu dissesse, "Prima Harriet, aqui, o Boston Evening Transcript."
(Matheus "Mavericco")

Boston Evening Transcript

Os leitores do Boston Evening Transcript
Ondulam ao vento como um trigal maduro.

Quando tênue o anoitecer se apressa na rua,
Despertando os apetites da vida nuns
E a outros trazendo o Boston Evening Transcript,
Subo os degraus e toco a campainha, virando-me
Cansado, como alguém se viraria num adeus a Rochefoucauld
Se a rua fosse o tempo e ele estivesse no final da rua,
E digo: “Prima Harriet, aqui está o Boston Evening Transcript”.
(Denise Bottmann)


e uma portuguesa:

O «BOSTON EVENING TRANSCRIPT»

Os leitores do Boston Evening Transcript
Curvam-se ao vento como seara madura.

Quando a tarde se apressa um pouco na rua
Despertando apetites de vida em alguns
E a outros trazendo o Boston Evening Transcript,
Eu subo as escadas, toco a campainha,
Voltando-me cansado, como que se voltaria para acenar adeus a Rochefoucauld,
Se a rua fosse tempo e ele no fim da rua,
E digo: - Prima Henriqueta, aqui está o Boston Evening Transcript.
(Jorge de Sena)



frases IV

I should have been a pair of ragged claws
Scuttling across the floors of silent seas

michele cromp

frases III

I have heard the mermaids singing, each to each



frases II

do I dare to eat a peach?

kathy vincent

frases I

aquelas mais conhecidas, por exemplo:

lisa congdon


o nome

prufrock
  • brincadeira linguística de eliot com prüf do alemão e rock, um composto semiadaptado a partir de prüfstein ("pedra de toque")
  • prude of frock, um pudico a rigor, alusão às inibições eróticas do personagem e de seu ambiente vitoriano (e do ambiente puritano da nova inglaterra do autor)
  • prufrock-littau, nome de uma firma de móveis de saint-louis, cidade natal de eliot, no missouri
eliot, pessoalmente, diz que não sabe, não lembra, não faz ideia de onde tirou o nome. já quanto à "canção de amor" do título do principal poema de prufrock and other observations, ele diz que não conseguiria imaginá-lo se não fosse a existência de "the love song of har dyal", de kipling.






domingo, 31 de maio de 2015

antes do chá

Before the taking of a toast and tea.

Antes do chá com torradas.
Antes de tomar o chá e a torrada.
Antes da hora de torradas com chazinho.
Antes de tomar o chá e as torradas.
Antes de uma torrada e xícara de chá.
antes da hora de tomar chá com torrada.
Antes de tomar chá com torradas.
Antes do chá com torradas.
Antes do chá com torradas.
Antes de tomar teu café com pão.
Antes de vir o chá e seus afins.
Antes da hora do chá.

podemos ficar contentes que haja uma unanimidade em torno do momento: é antes. 
o problema para os tradutores, claro, é a rima entre for me e and tea.

Time for you and time for me,/ [...]/ [...]/ Before the taking of a toast and tea.

Tempo para ti e tempo para mim,[...]/ [...]/ Antes do chá com torradas.
Tempo para ti e tempo para mim,[...]/ [...]/ Antes de tomar o chá e a torrada.
Tempo para você, tempo pra mim,[...]/ [...]/ Antes da hora de torradas com chazinho.
Tempo para ti e tempo para mim,[...]/ [...]/ Antes de tomar o chá e as torradas.
Para ti, para mim tempo haverá[...]/ [...]/ Antes de uma torrada e xícara de chá.
tempo pra você e para mim,[...]/ [...]/ antes da hora de tomar chá com torrada.
Tempo para você e tempo para mim,[...]/ [...]/ Antes de tomar chá com torradas.
Tempo para você e para mim[...]/ [...]/ Antes do chá com torradas.
Tempo para você e tempo para mim,[...]/ [...]/ Antes do chá com torradas.
Tempo para você, tempo para mim[...]/ [...]/ Antes de tomar teu café com pão.*
Tempo para você e tempo para mim,[...]/ [...]/ Antes de vir o chá e seus afins.
Tempo para mim e para ti, terá,[...]/ [...]/ Antes da hora do chá.

é nessa perspectiva de preservação rímica que se destacam as soluções em negrito (incluída a rima imperfeita "mim/ afins").

* aqui a tentativa foi a rima com um verso anterior, terminado em "questão".

vejam-se excerto e excerto (cont.)


excerto (cont.)

o poema mais conhecido de prufrock and other observations é "the love song of j. alfred prufrock". existem diversas traduções deste poema em particular, publicadas em volume independente, em antologia ou em sites e blogues. segue-se o mesmo excerto, em outras dez traduções.


I.
E muito certamente haverá tempo
Pra que flua pela rua a parda fumaça
Esfregando o dorso pelas vidraças;
E sim, haverá tempo, haverá tempo
De preparar um rosto que outro rosto encare;
Haverá tempo para matar e criar,
Tempo de mãos, para os trabalhos e os dias,
Que erguem e lançam questões no seu prato;
Tempo para você, tempo pra mim,
E tempo ainda de mil e uma indecisões,
Também de inúmeras visões e revisões,
Antes da hora de torradas com chazinho.

(André Capilé, aqui)


II.
Mas haverá tempo suficiente
Para a névoa amarela que rasteja pela rua
Esbarrando sobre a vidraça;
Haverá tempo, haverá tempo
De preparar o rosto que enfrenta os outros rostos;
Tempo para matar e tempo para criar,
Sim, tempo para todos os trabalhos e os dias
Que erguem e despedaçam indagações sobre o teu prato;
Tempo para ti e tempo para mim,
Tempo ainda para cem indecisões
Cem visões e revisões
Antes de tomar o chá e as torradas.

(Alex Severino, aqui)


III.
E haverá tempo, na verdade,
Para a névoa amarela que nas ruas desliza
As costas a esfregar nos vidros das janelas;
Haverá tempo, haverá tempo
De a face preparar para encontrar as faces que defrontas;
Para matar, criar, haverá tempo
E para os trabalhos todos e os dias de mãos
Que erguem e instilam em teu prato uma questão;
Para ti, para mim tempo haverá
E para cem indecisões
E um cento de visões e revisões,
Antes de uma torrada e xícara de chá.

(Não consta, aqui)


IV.
e é certo, o tempo vai chegar
para o fumo espesso errante pela rua,
que esfrega as costas nas venezianas;
o tempo vai chegar e vai chegar
de preparar a cara a ver as caras conhecidas suas;
vai chegar o tempo de criar e de matar
e o tempo dos trabalhos e os dias e as mãos
que erguem e jogam a dúvida em seu prato;
tempo pra você e para mim,
e tempo pra mais cem indecisões,
e mais cem visões e revisões,
antes da hora de tomar chá com torrada.

(rodrigo t. gonçalves, aqui)


V.
   E na verdade haverá tempo
Para a fumaça amarela que desliza pela rua,
Esfregando seu dorso nas vidraças das janelas;
Haverá tempo, haverá tempo
Para preparar o rosto a fim de encontrar outros rostos;
Haverá tempo para matar e criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias de mãos
Que levantam e deixam cair uma questão em seu prato;
Tempo para você e tempo para mim,
E tempo ainda para cem indecisões,
E para cem visões, e revisões,
Antes de tomar chá com torradas.

(Domingos van Erven, aqui)


VI.
E na verdade haverá tempo
Para a fumaça amarela que desliza ao longo da rua
Esfregando o dorso nas vidraças;
Haverá tempo, haverá tempo
De preparar o rosto para encontrar os rostos que você encontra;
Haverá tempo para matar e criar
E para que os trabalhos e dias de mãos
Que levantam e deixam cair uma pergunta em teu prato;
Tempo para você e para mim
E tempo ainda para uma centena de indecisões,
E para uma centena de visões e revisões,
Antes do chá com torradas.

(Não consta, aqui)


VII.
De fato, haverá um tempo
Para a fumaça amarela que se esgueira ao longo da rua
Roçando suas costas nas vidraças;
Haverá tempo, haverá tempo
Para preparar um rosto para encontrar os rostos que encontrares;
Haverá tempo para assassinato e tempo para criação,
E tempo para todos os trabalhos e dias de mãos
Que se levantam e derrubam uma questão no seu prato;
Tempo para você e tempo para mim,
E tempo, ainda, para uma centena de indecisões,
E para uma centena de visões e revisões
Antes do chá com torradas.

(Rita Rocha, aqui)

VIII
E decerto haverá tempo
Para a fumaça amarela que se escorrega pelas ruas
Esfregando as ancas nas janelas
Haverá tempo, muito tempo
Para preparar tua cara e espremer os cravos
Existirá bastante tempo para tentar e tramar
Tempo para todos os tipos de trampo
Erguer o fardo, jogar no prato uma questão
Tempo para você, tempo para mim
E tempo ainda para umas cem digressões
Umas cem visões e revisões
Antes de tomar teu café com pão.

(Aderval Borges e Paulo Amaral, aqui)


IX
E, é verdade, haverá tempo
Para o fumo que resvala nas calçadas
Esfregando o próprio dorso nas vidraças;
Haverá tempo, haverá tempo,
Para ter uma cara pronta para acenar para as velhas caras;
Haverá tempo para assassínio e criação,
Para todos os trabalhos e os dias de mãos
Que elevam e pingam uma questão no prato;
Tempo para você e tempo para mim,
E ainda tempo para mil indecisões,
E para mil visões e revisões,
Antes de vir o chá e seus afins.

(Lawrence Flores Pereira, aqui)


X
E de fato tempo haverá
Para a pálida fumaça que flui pela estrada
Esflorando sua espádua sobre as vidraças;
Tempo terá, tempo haverá
Para compor um rosto que possa enfrentar rostos a defrontar-te;
Um tempo para destruir e obrar,
E tempo para todos os deveres, fábulas e truques
Que entornam no teu prato um pronto divagar;
Tempo para mim e para ti, terá,
E tempo ainda para uma centena de indecisões
E para uma miríade de visões e revisões
Antes da hora do chá.

(Maurício Borba Filho, aqui)


para o original e outras duas traduções, veja excerto, aqui



excerto

The Love Song of J. Alfred Prufrock

[...] And indeed there will be time
For the yellow smoke that slides along the street,
Rubbing its back upon the window panes;         
There will be time, there will be time
To prepare a face to meet the faces that you meet;
There will be time to murder and create,
And time for all the works and days of hands
That lift and drop a question on your plate;         
Time for you and time for me,
And time yet for a hundred indecisions,
And for a hundred visions and revisions,
Before the taking of a toast and tea.


I.
E na verdade tempo haverá
Para que ao longo das ruas flua a parda fumaça,
Roçando suas espáduas na vidraça;
Tempo haverá, tempo haverá
Para moldar um rosto com que enfrentar
Os rostos que encontrares;
Tempo para matar e criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias em que mãos
Sobre teu prato erguem, mas depois deixam cair uma questão;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para uma centena de indecisões,
E uma centena de visões e revisões,
Antes do chá com torradas.

(Ivan Junqueira)


II.
Haverá por certo um tempo
Para o fumo amarelo que desliza pela rua
E esfrega as costas nas vidraças;
Haverá um tempo, tempo
De compor um rosto para olhares os rostos que te olharem;
Tempo de matar, tempo de criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias, de mãos
Que se erguem e te deixam cair no prato uma pergunta;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para cem indecisões
E outras tantas visões e revisões
Antes de tomar o chá e a torrada.

(João Almeida Flor)


vejam-se excerto (cont.) e antes do chá


em português


tradução de ivan junqueira, 2004. disponível aqui 

tradução de joão almeida flor, 2005 (portugal)

ambas bilíngues.

a dedicatória






os poemas


CONTENTS
                                                                                                                                                                                                                                                                                                           
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fonte: aqui

prufrock and other observations



tiragem: 500 exemplares